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Ulisses Neto: ''Viver em Londres, para mim é um sonho, na verdade''

Ulisses Gomes da Rocha Neto, ou Ulisses Neto como é conhecido, recebeu certificação em 2002 em Digital Vídeo pelo Senac (São Paulo-SP). Graduou-se em Comunicação Social – Jornalismo, pela Centro Universitário – UniFIAM-FAAM, do Grupo FMU, São Paulo, em 2006. Concluiu em 2008 o Journalism 2.0 pela universidade Knight Center for Journalism / University of Texas, Austin/USA. Na mesma instituição de ensino obteve em 2010 o certificado CAR (Computer-Assisted Reporting). Em 2015, concluiu o curso Documentary and Factual Filmmaking na City University London.
Começou no jornalismo em 2002 como roteirista para filmes corporativos de companhias como General Motors, Telefônica, Pfizer, Nestlé, Santander, pela RN Brasil Produções. Ficou lá por oito anos, até janeiro de 2010. De janeiro de 2002 a novembro 2004 acumulou atividades como editor e assistente de direção de filmes corporativos e programas de TV, pela URP Filmes.
Atuou como estagiário em janeiro de 2004, no Programa Pequenas Empresas Grandes Negócios, trabalhando pela produtora GTEC.
A trajetória na Jovem Pan teve início em março de 2005. Ficou na emissora até novembro de 2010, em São Paulo, período em que assumiu várias atividades. Foi repórter na Editoria Internacional fazendo a cobertura diária do noticiário político e econômico internacional; editor com a coordenação e fechamento do Jornal Jovem Pan; editor e redator do blog Mundo, e ainda apresentador do site Jovem Pan Online.
Ulisses mudou-se para Londres em novembro de 2010. De lá atende como correspondente a rádio Jovem Pan e o portal Terra Networks. Também é colaborador da revista GQ e produz conteúdo para veículos ingleses e brasileiros por meio da produtora Maracanã Media.

E como o próprio Ulisses adianta no seu portfólio as contribuições para emissoras para emissoras sempre agregam vários dial(s). Na atuação dele estão a Guaíba (RS), Senado (DF), Itatiaia (MG), Mitre (Argentina), RNV (Venezuela) e Caracol (Colômbia).
Foi correspondente da Radio France Internationale, RFI, entre junho de 2011 e março de 2014, como colaborador do serviço português, a partir de Londres, Reino Unido.
A partir de janeiro de 2015, com a cobertura do noticiário britânico é correspondente colaborador na capital inglesa para o Jornal da Manhã da rádio Jovem Pan.
Mantém o blog Cheers, London que inaugurou na fase em que chegou em Londres e explicou “descobrindo o verdadeiro significado da palavra “expatriado””. Escreve sobre suas andanças pela Europa e sobre a cidade londrina, o que faz lembrar da frase de Samuel Johson (em 1777) “Quando o homem está cansado de Londres, ele está cansado da vida…” E brinda a cidade inglesa com um “Londres, je t’aime!”



Blog do Leonardo: Como você acha que o Reino Unido está contornando a crise?
Ulisses Neto: Então o Reino Unido, desde o início, entendeu qual é o tamanho do problema. O primeiro-ministro vinha a televisão diariamente falar sobre a situação, mas há uma controvérsias em relação a tomadas de decisões, sobre o confinamento, restrição de circulação de pessoas, distanciamento social, porque num primeiro instante, o governo apostou na ideia de imunidade de rebanho, ou seja, deixar o vírus circular pela sociedade, para que um grande número de pessoas contamina-se, assim também desenvolvesse imunidade em relação o vírus. O problema é que o número de contaminados começou a crescer muito e o sistema de saúde foi chegando perto de um momento de colapso, por isso as medidas de distanciamento social foram anunciadas aqui, há mais ou menos uma semana e meia assim e esta tem sido a principal ação para tentar conter o avanço do vírus, mas é claro que ao mesmo tempo o governo está investido nos hospitais de campanha, vai faz uma aqui com 4 mil leitos na cidade de Londres, também está fazendo outros hospitais de campanha no interior do país. A principal critica, hoje, a atuação do governo sobre equipamentos de proteção para as equipes de saúde pública e hoje já, 1 em cada 4 médicos ou enfermeiros, né? Profissionais de saúde do SUS britânico, que se chama NHS, estão contaminados com o Coronavírus e por isso, estão afastados do trabalho e estão faltando mascaras, equipamentos de proteção em geral e essa tendo sido a principal crítica, além da falta de testes, os testes em massa já deveriam ter começado por aqui e ainda não começaram, nem para os profissionais de saúde também, então, essa tem sido a principal, as principais criticas a atuação do governo britânico. Eu acho que, de certa forma, eles tem agido bem, demonstraram interesse em proteger socialmente a população, não é? Com pacotes de ajuda econômica bastante robustos, que vão chegar aí a quase 20% do PIB britânico, então nesse aspecto o governo me parece que está fazendo um bom trabalho sim.

Blog do Leonardo: Qual é a sua opinião em relação ao posicionamento do primeiro-ministro Boris Johnson sobre o novo Coronavírus (COVID-19)?
Ulisses Neto: Então, desde o inicio ele reconheceu que a crise é muito grave, que seria um desafio enorme para a sociedade e que as medidas certa deveriam ser tomadas na hora certa, então eu acho que nesta crise especifico o Boris Johnson tem ido muito bem, tem feito o que é necessário. Agora, é claro que o país tem suas restrições econômicas, tem suas restrições de logísticas também e nem tudo tá indo, conforme o planejado, no combate a esta crise, mas de modo geral, eu acho que ele tem tido uma postura bastante responsável e coerente com a urgência do momento. Sobre este fato de ele ter demorado para determinar o confinamento aqui, a gente tem que entender que o Boris Johnson faz parte de uma corrente ideológica libertária, em que a presença do estado tem que ser cada vez menor, em que ele acredita também que o cidadão tem que, o individuo tem que ter o poder de decidir o que é melhor para ele, então ele apostou muito nisso, que as pessoas saberiam entender a gravidade do momento e ficariam em casa, o que se provou equivocada e foi necessário endurecer as regras, mas no geral eu acho que ele tá tendo uma atuação satisfatória, digna de um chefe de estado.

Blog do Leonardo: Como é o sistema de saúde pública na Inglaterra?
Ulisses Neto: Este é um tema complexo, o SUS britânico, que se chama NHS, como eu disse, ele é muito bom, no geral, ele é o maior empregador da Europa, tem 1,3 milhão, 1 milhão e 300 mil funcionários hoje, esse número vai aumentar, claro, durante a crise, mas é o maior empregador da Europa, tem uma rede espalhado por toda a Grã-Bretanha, os 4 países, não é? Do Reino Unido da Grã-Bretanha e é um sistema que tá preparado para lidar com urgências, mas não desta gravidade, não é? Então o governo entendeu que vai precisar colocar mais dinheiro no NHS, vai precisar aumentar a estrutura para combater está crise, inclusive o NHS solicitou aí, um número grande de voluntários na sociedade aqui do Reino Unido, precisava inicialmente de 250 mil pessoas, nas primeiras 24 horas foram mais de 500 mil inscritos, então isso demonstra que o publico, em geral, aqui no Reino Unido tá comovido e realmente respeita muito o NHS, por isso todo mundo quer ajuda e ele é um simbolo aqui do país, é um simbolo da Inglaterra, então é um sistema muito respeitado por todos os britânicos.

Blog do Leonardo: Como você acha que o mundo vai sair dessa crise?
Ulisses Neto: Impossível dizer! Impossível dizer, porque os desdobramentos econômicos são radiciais, não é? As medidas de distanciamento social claramente chegaram para ficar durante um bom tempo, a gente não sabe quanto mais, mas imagino, que, até pelo menos, uma vacina ser desenvolvida e comercializada, ou seja, daqui 1 ano, 1 ano e meio, agora é claro, como foi dito aqui, pelo governo britânico, não significa que a gente vai passar este tempo todo com confinamento total, mas as regras de distanciamento social vão existe de alguma forma com restrições para fazer com que as pessoas não cheguem perto uma das outras, para que as pessoas fiquem mais tempo em casa, evitem aglomerações e por aí vai, então eu acho que a vida vai ser muito diferente quando ela for retomada a alguma normalidade, a gente não sabe nem quando isso vai acontecer, não é?

Blog do Leonardo: Como o mundo está vendo as ações tomadas pelo governo do Brasil e do presidente Bolsonaro?
Ulisses Neto: O Brasil já estava com uma imagem muito ruim a tempo, tá? É esse processo de detirionamento, deterioração, agora não sei como fala, mas de deterioração da imagem brasileira começou a época das organizações dos grandes eventos, como Copa do Mundo e Olimpíada, né? Os eventos foram problemáticos e aí naquele momento a imagem do Brasil começou a ficar também deteriorada, depois disso, veio a crise econômica, crise política, melhor dizendo, seguindo pela crise econômica, ou a crise econômica que originou a crise política, como preferir, e desde de então a imagem do Brasil é péssima! Agora com Jair Bolsonaro é uma tragédia, hoje mesmo o próprio jornal britânico, 'The Guardian', que é um jornal com viés de centro-esquerda, publicou um editorial dizendo que até os traficantes de drogas no Brasil já entenderam a complexidade do problema, estão pedido para que as pessoas fiquem em casa ou ordenando que as pessoas fiquem em casa nas favelas e o presidente da republica ainda não conseguiu sacar isso, né? Tá dando ordens que são completamente controvérsias em relação ao que o resto do mundo tá fazendo. Então o mundo tá olhando abismado para o Jair Bolsonaro, para a situação do Brasil, mas é claro que também, ao mesmo tempo, as crises internas são gigantescas, né? Então a repercussão é limitada por causa disso, a Inglaterra tá preocupada com os problemas da Inglaterra nesse momento, a França com os problemas da França e por aí vai, mas quando se fala do Brasil, se fala das atrocidades que o presidente tem cometido nesta crise tão grave, que é a crise do Coronavírus.

Blog do Leonardo: O que você pensa da monarquia?
Ulisses Neto: Eu penso que, cara como um cidadão que mora aqui no Reino Unido, acho que ela é um simbolo importante para a vida britânica, acho que bastante curioso um país, no século 21, no ano de 2020 não elege o seu chefe de estado, mas acho que são, se dizer assim, crasias que a gente tem que respeitar, então eu acredito que os britânicos na sua maioria gostam e apoiam a monarquia e eu consigo entender o porque disso, eu acho que, principalmente, num momento de crise como essa, as pessoas procuram algum alento, procuram alguma coisa para manter a unidade e por ai vai e a família real exerce este papel, apesar de todas as suas polêmicas, né? Então acredito que é um negocio que funcione bem pro Reino Unido, porque é um país especifico que tem essa tradição e nutre esta tradição que existe também em outros lugares, é claro, né? Em tantos outros modelos, como por exemplo na Arábia Saudita, mas não dá para comparar a família real saudita ou nenhuma família real do Oriente Médio ao da britânica, porque lá eles mandam, lá eles tem influencia, tem influencia econômica, tem influencia política e aqui não é o caso, aqui é muito mais um simbolismo, por isso, no final das contas eu acho que os britânicos se dão bem com esta situação e eu como estrangeiro aqui, olho isso com respeito.

Blog do Leonardo: Como é viver em Londres?
Ulisses Neto: Viver em Londres, para mim é um sonho, na verdade, você tem acesso a tudo que é de melhor no mundo, desde o grão de café até um quadro do Rockley, por exemplo. Então a vida aqui ela tem um padrão muito elevado e as pessoas são tratadas com dignidade, com respeito, via de regra, não é? A gente não tem um problema tão grave de segurança pública aqui, quem mora aqui como quem mora no Brasil, acho que isso também é um ponto importante e também tem aquela questão de você pagar muito imposto né? Eu pago, por exemplo 40% de imposto de renda, pago imposto municipal, como todo mundo, distrital, melhor dizendo e são impostos muito altos, mas o retorno até que tá visível, né? Então acho que isso, faz com que morar em Londres seja uma experiência muito agradável, agora tem o lado ruim também, né? Que é você ser estrangeiro, morar longe de casa, longe de seus amigos, sabe, longe de sua família e por aí vai e também o fato de o clima não é dos mais agradáveis, né? Assim sempre nublado, o tempo fechado, poucos dias de sol, poucos dias de calor, isso tudo pesa também, mas, no geral, para mim, Londres, na minha opinião, porque eu gosto, porque eu procuro, Londres é a melhor cidade do mundo.

Blog do Leonardo: Como a crise afetou sua rotina?
Ulisses Neto: Afetou muito, o meu trabalho é basicamente é feito na rua, então não vou a escritório, normalmente eu trabalho em casa, mas quando eu to editando, quando estou escrevendo, mas o meu material, minha matéria-prima é na rua, eu tenho que tá filmando, tenho que está filmando com as pessoas, tenho que viajar e tudo isso acabou, né? Por enquanto, não sei quando isso vai voltar, então eu costumo a viajar 1 vez a cada 15 dias, por exemplo, não sei quando isso vai voltar a uma normalidade, afetou muito a minha vida, não sei nem se meu trabalho vai ser o mesmo quando isso acabar, se ainda vai ter ainda este tipo de trabalho que eu faço, ''finan closet'', como eles dizem aqui, dedos cruzados, vamos cruzar os dedos para que tudo acabe bem.

Blog do Leonardo: Como está a vida em Londres e no Reino Unido após o Coronavírus?
Ulisses Neto: Tá paralisada, tá em ''estende bay'', ninguém tá fazendo nada, só os trabalhadores essenciais nas ruas, a gente só sai para fazer compras e voltar para casa, só pode sair uma vez por dia para fazer exercício físico, mas ainda assim tem que ser no seu quarterão, no seu pedacinho ali, agora a policia está até abordando gente na rua, abordando gente no metro, nas avenidas, perguntando 'o que você está fazendo aqui? Volta para casa', então a vida aqui tá dura, tá complicada, mas com um certo alento de saber que o governo tá trabalho, que o governo vai da proteção social, vai dar dinheiro, vai segurar 'as pontas' de quem precisar, então isso também traz algum conforto nesse momento.

Blog do Leonardo: Como você vê a relação Brasil com o Reino Unido?
Ulisses Neto: È curioso, a relação do Brasil com o Reino Unido, comercialmente falando, sempre foi muito discreta, isso poderia mudar agora com o Brexit, mas até o Brexit a gente não sabe quando vai ser materializado de fato, quando, se aquele prazo 1 de janeiro de 2021, que seria para acabar a transição vai ser realmente respeitado, quando os britânicos vão começar a falar em acordos de livre comércio novamente, já estavam fazendo isso, mas agora com a crise vão ter que focar as energias em outra coisa, né? Então a relação dos dois países sempre foi muito tímida, muito aquém do que poderia ser, né? A gente pode dizer com algum conforto que o principal parceiro ou o país, não sei se parceiro, mas o país que o Brasil tem relação melhor aqui na Europa, é a França e não é o Reino Unido e os britânicos também não olham com muito interesse para a América Latina, não, isso é até meio que histórico, claro que oficialmente eles vão dizer que é um parceiro importante, que o Brasil isso e aquilo, mas na prática não sinto dessa maneira não, os britânicos tem laços com os países que eram mais ligados ao 'Império Britânico', então é evidente que os laços comerciais deles com os americanos, com a Europa, claro, né? Com a Ásia, com a Índia, com partes da África são mais importantes para eles, do que a relação com o Brasil, a relação com o Brasil sempre foi renegada a um segundo, terceiro escalão aqui no Reino Unido.